quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Meu nome não é Amanda

Nem Fernanda. Meu café sempre deixo pela metade, morno. As paixões, vivazes e efêmeras. Sou metade homem, metade mulher. Tento, mas não consigo cultivar a virtude da paciência. Por falar em virtudes, tenho poucas. Espiritualidade, quase nula. In-voluída. Um ser sem piedade pronto para explodir a cada cinco minutos. Sem paciência, ofendo e afago. A pele, branca demais. Os ossos, muito rentes à pele. Os olhos, fracos, de cor indecisa como a carcaça que os carrega. Nublados, se esverdeiam. Ensolarados, refletem o azul do firmamento. No centro, o amarelo, também visto no sorriso. Os pés símios e as mãos de pianista frustrada. Dentes fracos, quebrados, remendados. Pulmão pela metade, estômago dobrado, fígado preparado e um coração embrutecido. Unhas encravadas, quebradiças, mal feitas. Palavras sempre em excesso, sem reflexão. Testa e imaginação gigantes. Racionalidade e lábios pequenos. Procuro a verdade e a paz em todos os lugares, mas desisto da busca em poucos atos. Represento cada dia como se as horas fossem meu teatro e o mundo a volta uma plateia desatenta. Calos nos pés, nas mãos, na alma. Um corpo quente que sente frio. Ojeriza ao calor. Verão, só se for no hemisfério norte. Nos poucos amigos, a confiança cega. Nos muitos desafetos, o espelho das próprias atitudes. Não gosto de exercícios, no máximo sexo. Caminhar, só o estritamente necessário. Jornalista convicta. Ervilhas poderiam deixar de existir. Descontente por natureza, nunca-satisfeita nata. Sonho em rodar o mundo de mochila, mas troco os planos pelo conforto do chá-no-sofá-do-confortável-apartamento-no-centro. De todas as desistências, uma permanência: a capacidade de amar e perdoar. 

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Apaixonou-se mais uma vez. Na sala dos discos e dos livros, viveu a melhor das sextas-feiras. Envolta na bruma de um quase-amor deixou rolar a lágrima derradeira de quem pensa que encontrou seu lugar no mundo. Ao som de um alguém póstumo, fez daquela a sua morada. Pelo menos por aquelas horas.

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Penso que o amor é como uma grande tempestade. Por vezes ficamos tão embasbacados na beleza dos raios e dos trovões que esquecemos de tirar nosso corpo do caminho.  Deixamos de perceber que a magnitude do firmamento em negrume invariavelmente vai se transformar em destruição. E o ponto de impacto somos nós mesmos. O estrago que a tormenta deixa não vale a beleza do céu riscado. 

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De toda sorte, ela ainda está contigo. E até que alguém venha e a tire disso - e pode ser bem rápido, afinal, é volúvel e volátil - vai continuar estando.

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