quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Essa falta

Esses dias, deitada à meia-luz da cabeceira, deparei-me a questionar minha própria capacidade de escrever. Há quantas semanas não debruço meus pensamentos para a livre verborragia? Não sei, não saberia dizer sem verificar os arquivos do blog. Mas um simples devaneio pré-sono me levou a algo mais profundo: e se desaprendi a escrever? E se não mais possuo a simples, severa e sincera capacidade de formular frases ao acaso a fim de levar paz à alma? E se tudo isso se perdeu em meio ao caos da vida diária? Pensei em erguer o corpo e provar o contrário naquele segundo, mas como criança que se defende das monstruosidades do universo com os cobertores, cobri minha face e contei até quinze, quinhentos, até a vontade passar. Medo. E se o delírio fosse empiria? E se a única companhia que tive em anos -as letras, as frases, os parágrafos!- realmente tivessem me abandonado? E se não houvesse mais espaço para minhas angústias a partir de tanto tempo de alegria? Não. Dentro da alma de quem já sentiu a dor não haverá espaço unânime para o júbilo. Quem já sentiu a tristeza dos tempos soturnos saberá, sempre, que não há "mal que para sempre dure, mas nem felicidade eterna." Mas naquela hora, naquela noite, não pude provar o contrário daquilo que me perturbava. Dormi. Acordei com a mesma sensação de impotência. Des-escrever. Não sei. Não posso. Não será o mesmo. Apenas hoje, dias e dias depois, consegui reunir o tempo e a coragem necessários para efetivar as provas cabais de que ainda sei compor. Me parece que falta algo. Falta fúria, falta fita, falta festa. Há algo de radiante demais nos meus olhos para espremer o que me parece necessário do âmago do coração. Âmago, amargo, amar. Acho que não nos permitem ser na essência quando se ama. Essência é duidade, é bom e mal, preto e branco. Quando se é feliz, se é pleno. Mas não se é completo. Quando não há dor, por menores que sejam os períodos em que isso acontece, falta algo. E é essa falta que nos faz temer à noite. É essa ausência que nos faz puxar as cobertas no meio da madrugada. Alegria, alegria.

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