sábado, 14 de julho de 2012

Primeiras vezes

A primeira vez que se faz algo sempre é especial. Consigo lembrar como se fosse presente o dia em que meu avô soltou a garupa da bicicleta e eu segui sozinha pelo pátio. Era setembro e eu devia ter oito anos. Nunca aceitei as rodas de apoio, preferia sempre a mão do pai ou do vovô Osmar. Também lembro do primeiro dia de aula na cidade grande. O medo, o vexame, a expectativa. Tudo diferente, tudo grande, tudo e todos. A primeira vez que voei, que beijei, que chorei por alguém do sexo oposto, que tomei um fogo de rastejar no chão, que perdi um amigo para sempre, que perdi alguém da família para sempre, que perdi um amor para sempre, que perdi a virgindade, que perdi a vergonha, que perdi o caminho. A primeira vez sempre fica marcada no coração de quem a vive.

Primeira briga. Primeira discussão. Olhando agora, bem de longe, nem parecia algo tão derradeiro e crucial, mas naquela hora foi o rompante do destino da humanidade. Brotou como uma lágrima no olho de uma criança. Tinha de sair. Precisava ser desse jeito, para percebermos que nem tudo na vida é esse sorriso que se aconchega na minha boca toda vez que tu encostas nela. Precisamos alterar o tom para entonar, logo mais, a canção perfeita de quem se gosta, se precisa, se necessita. Eu gosto de ti. Com meu gosto mediano, minha compreensão medíocre, com minha vida mais ou menos. Mas eu sinto. E como. Nunca pensei que minhas palavras fossem mudar de destinatário tão rápido, tão forte, tão de repente, tão pra sempre. A vida me sacudiu de ponta cabeça e me jogou contra teu peito. E é nele que encontro minha tábua de salvação. Eu estou contigo, tu estás comigo. É assim que tem que ser. Pela primeira vez (mesmo) eu acho que nunca vai acabar.

Já está três-quartos morto quem nega a vida. 

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